segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Romeo e Julieta

No sábado, como o de costume, acordei às 05h para ir ao curso no centro da cidade. Nada diferente do habitual; tomei banho, me arrumei e tomei café. Antes de sair, abri a persiana e olhei para a rua. Tudo normal além do céu azul escuro e opaco que começava a dar os primeiros sinais da bela manhã ensolarada que estava por vir.
Atravessei o hall do prédio e quando fui me aproximando do portão, que é largo e de grades, percebi que os porteiros olhavam fixamente para a cena que estava acontecendo. A princípio, vi um carro preto e esportivo parado em frente ao portão, com três garotos encostados, que deveriam ter entre 16 e 18 anos no máximo, e ao lado do carro me deparei com um menino sem blusa e visivelmente transtornado - uma mistura explosiva de álcool e tristeza - ajoelhado, com os braços entrelaçados como se fossem feitos de mármore, nas pernas de uma menina. Não era uma menina qualquer, era a sua metade, sua namorada.
Quanto mais ela tentava se desvencilhar dos braços de mámore fincados em sua pele, mais ele chorava. E entre lapsos de soluços e palavras soltas, ele dizia que a amava, que não era para ela o deixar, pois se o fizesse ela ia arrancar sem anestesia o seu coração.
Fiquei brevemente parada ali, fitando envolvida com toda a intensidade que os rodeava. Foi quando ela cedeu aos seus murmúrios e lamentos e sutilmente, ela deixou que o corpo escorregasse por entre os braços do seu amado, passou as mãos no rosto perdido por trás das lágrimas e o beijou. Foi um beijo apavorado, e absorto de incertezas. Mas constante e voraz, como se nada mais importasse - nem o fato de que haviam vizinhos a observando. Eles se esqueceram de nós, do tempo e como se nada mais importasse, eles levantaram e ficaram se olhando com as testas grudadas uma na outra. Ela se despediu com um olhar e ele afagou seu rosto. Ele entrou no carro e ela pediu para abrir o portão.
Os porteiros que antes chegaram a aplaudir a cena de amor, acompanharam tudo com o olhar - seu rosto vermelho escondido por entre os fios de cabelo que as lágrimas grudaram, joelho ralado e um sorriso de felicidade.
Assim eu parti, peguei meu velho ônibus de sempre e fui estudar inspirada, esperando um bom dia.
Afinal, não é sempre que a gente vê um Romeu e uma Julieta nesses tempos tão sem paixão.

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