sábado, 22 de agosto de 2009

Quarto 691

Sinto na respiração daquele quarto vazio, o espaço sombrio entre o amor e o rancor. Sinto o ar pesado como ferro em brasa, tomando formas abstratas nas paredes pintadas com tintas de cor. Tateando o chão eu encontro pedaços de nós, cartas de amor, pontas de cigarro, garrafas sem rótulo, tudo o que sobrou... No vidro sujo e embaçado me vejo num passado não muito distante, com ânsia de me encontrar, te encontrar. E hoje me vejo refletida no que sou: presa num presente sem futuro, embaçando o vidro com a respiração ofegante e quente vendo tudo o que restou. Abro a porta para ir embora, olho pela ultima vez para aquele quarto de motel barato com o neon fraco, abandonado pela nossa falta de amor. Desço as escadas correndo tocando no corrimão enferrujado e vibrante, encontro de novo a rua e como e fosse um ultimo aceno, vento batendo no rosto, fecho os olhos e me despeço daquilo que já fez parte de mim, mas que nada de mim, sobrou

Um comentário:

Fala que eu te escuto