domingo, 12 de dezembro de 2010

Nunca pedia mais que um copo de Martini, na verdade, nem gostava da bebida. Gostava mesmo de sentar-se num bar em meio a pessoas desconhecidas. Queria ver seu comportamento, como se vestiam e escutar uma música que não era do seu gosto. Ficava ali por horas analisando um approach, uma investida, um fora e esperando alguem oferecer-lhe uma bebida só para negar. Gostava de ver o bar man rodar as garrafas coloridas, selecionar as cerejas e servir um Sex on the Beach quase sem álcool. As pessoas gostam de ser enganadas - pensava ela. Elas vem para cá, pedem uma bebida, esperam que a noite seja a melhor da semana e que consigam uma boa transa num motel qualquer - daqueles que reutilizam o lençol até por 3 vezes seguidas - esperam uma ligação no dia seguinte e acabam se conformando com uma própria mentira, como a linha do telefone ruim. Sentia o cheiro marcante dos perfumes doces franceses misturados aos falsos e baratos, sentia medo quando uma pessoa a encarava até que ela fingia atender o telefone e ria com o suposto affair que nunca chegava do outro lado da linha. Um encontro era mais fácil assim, quando você fingia que esperava uma pessoa perfeita e ela, por um motivo muito importante não vinha e lhe prometia um mundo no dia seguinte. Cedia um olhar quando uma pessoa mandava um bilhete escrito num guardanapo pelo garçom e logo em seguida jogava-o na lixeira, ou queimava-o com um cigarro de menta. Fumar não era seu forte, mas ao sair, quando as luzes já estavam quase todas apagadas e o esfregão lambia vorazmente o chão, ela acendia um, retocava o batom vermelho e saía, deixando alguns poucos olhares curiosos e se vangloriando por tudo que havia captado naquela noite, esperando que a próxima fosse melhor. Enquanto seu telefone nunca tocava, ela fazia com que encontros quase acontecessem todas as noites e se deixava envolver pelo clima e pelos beijos que não dava, mas presenciava.
A vida dos outros sob seus olhos era melhor do que a sua própria vida.

2 comentários:

  1. Sencasional!
    Fiquei vizualizando como fosse a cena de um filme e que mulher, que voyeur!

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  2. "A vida dos outros sob seus olhos era melhor do que a sua própria vida."
    Frase muito boa, vou twittar.

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