terça-feira, 25 de maio de 2010

Recomeço

Começo pelo fim mesmo, pelo sabor extasiado de uma história.
Caí num campo sem flores já levadas pelo outono, com uma paisagem transformada ainda mais bucólica pela minha falta de cor. Fiquei por ali, deitada, imóvel por alguns segundos até perceber alguém vindo em minha direção. Levantei. Trouxe os cabelos grudados no rosto, como se fizessem parte de uma pintura já corroída pelo tempo. Não era agradável de ver. Eu não me via. Mas parecia um fantasma vagando entre árvores e pássaros. Seria completamente cabível que tudo acabasse agora, onde já não existia mais do que um corpo acorrentado a um passado sombrio. Mas você não deixava. A sua presença insólita me acompanhava, eu não podia ver, mas sentia. Sentia você caído comigo no chão, com a boca afagando as folhas secas e todos os meus suspiros de injustiça, de abandono. Caminhei até o lago, extenso e tão verde que não se permitia ser desvendado, estava frio, com uma nevoa branca se formando em nuvens esparsas. Fiquei ali, em pé, olhando a imensidão verde musgo que silenciosamente me chamava tão baixo que mais parecia um sussurro. E ali foi meu recomeço, minha estrada de partida. Sem ar, sem dor. Uma nova vida.

4 comentários:

  1. Uau! Que vertigem!
    E recomeços ajudam a gente a viver, todo dia de manhã... Que bom!

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  2. sim, mas tá na hora de postar logo, né?!

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  3. esse foi um dos recomeços mais inusitados que já li, me pareceu tão tranquilo. cores muitas cores a partir de então..

    Flores.

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