Eu sempre tive medo de voar. Lembro a primeira vez que fiz uma viagem
internacional sozinha (e que foi a minha primeira vez voando também). Queria
viajar, conhecer o mundo, desbravar minha deliciosa França, mas tinha medo. Um mês antes da data da viagem, comecei a escrever algumas cartas para
família e amigos, caso acontecesse alguma coisa comigo. Tive o trabalho
minucioso de escrever para cada pessoa, deixar um mini testamento, responsáveis
pelos meus animais e senhas de banco e cartões. Na véspera da viagem eu deixei
tudo com a minha mãe num saco e disse: mãe, por favor, só abra se eu não
voltar. E assim ela o fez. Riu muito de mim, ficou angustiada tentando aliviar
o meu medo e guardou minhas cartas com o maior zelo possível. Voltei, com
a certeza única que passaria pelo medo de novo porque viajar o superava.
Oras, como podemos voar em um objeto que desafia toda a física? Isso
não entra na minha cabeça. A pressão, o peso, as asas, o piloto automático e
principalmente como tem gente que consegue atravessar os oceanos ao menos duas
vezes por semana? Esses comissários são mesmo respeitáveis! Se acha que estou
exagerando, vamos lá:
"O A380 tem uma cabine de 478 metros quadrados de
espaço utilizável do piso, 40% a mais que o segundo maior
avião de passageiros, o Boeing 747, e oferece capacidade para 525 pessoas em
uma configuração de três classes ou até 853 pessoas em uma única classe
econômica.
Peso carregado: 560 000 kg (1 230 000 lb)
Peso máx. de decolagem: 575 000 kg (1 270 000 lb)
Peso vazio: 276 800 kg (610 000 lb)
Passageiros: 407-853 passageiro(s)"
Fonte: Wikipedia.
Fala sério, como pode voar? rs
Entre alguns voos, mais traumático pra mim foi um onde sai de Roma em
2014 rumo a Dubrovinick. Estávamos eu e uma amiga, o avião com 50% de ocupação
somente e um céu terrivelmente nublado. O voo levaria em torno de 60min mas que
pra mim, pareceu uma eternidade. Com 30min de voo mais ou menos, o avião
começou a ter quedas de pressão, parecia algum brinquedo onde despencava um
pouco em queda livre (segundos) e retornava ao ponto normal. Quando ele começou
a tremer, tremer muito, as comissárias guardaram os carrinhos e sentaram
na posição de queda - vocês me ouviram? NA POSIÇÃO DE QUEDA!! E eu nesse minuto
já estava gritando e chorando. Os carrinhos começaram a soltar e bandejas da
cozinha se soltaram das presilhas e caíram no chão do avião, fazendo um barulho
terrível. Um silêncio dominava a tripulação e eu chorando, rezando e pedindo
perdão pelos meus pecados hahahaha Agora tudo é engraçado, mas na hora foi
terrível. Uma muçulmana envolta em seus lenços esticou um lencinho de papel pra
mim e fez um sinal para que eu me acalmasse. Agradeci aquele pequeno gesto e
foquei que tudo havia acabado. Quando aterrisamos eu beijei as paredes e chão
do aeroporto, nunca fui tão feliz.
O mais louco é que
ainda assim gosto de sentar na janela, olhar o céu, imaginar desenhos nas
nuvens e pensar na vida. Um completo paradoxo pra mim.
Tenho sempre em mãos algum livro e se necessário,
um remédio para relaxar e aliviar a tensão. Preciso viajar concentrada em
alguma atividade ou dormindo.
Sempre digo: morro de medo de voar, mas enquanto a minha vontade de
viajar for maior do que isso, continuarei superando meu medo.
Agora tenho que finalizar esse texto pqoque o avião vai decolar e eu quero
apreciar essa vista linda aqui do aeroporto Santos Dumont (RJ x SP).
OBS: com a barriga em cólicas. ;)